Sunday, February 25, 2007

Demónios Interiores

Sentei à minha mesa
Os meus demónios interiores
Falei-lhes com franqueza
Dos meus piores temores
Tratei-os com carinho
Pus jarra de flores
Abri o melhor vinho
Trouxe amêndoas e licores
Chamei-os pelo nome
Quebrei a etiqueta
Matei-lhes a sede e a fome
Dei-lhes cabo da dieta
Conheci bem cada um
Pus de lado toda a farsa
Abri a minha alma
Como se fosse um comparsa
E no fim, já bem bebidos
Demos abraços fraternos
Saíram de mansinho
Aos primeiros alvores
De copos bem erguidos
Brindámos aos infernos
Fizeram-se ao caminho
Sem mágoas nem rancores
Adeus, foi um prazer!
Disseram a cantar
Mantém a mesa posta
Porque havemos de voltar
Carlos Tê / Jorge Palma

Thursday, February 22, 2007

Estás só. Ninguém o sabe.

Estás só. Ninguém o sabe. Cala e finge.
Mas finge sem fingimento.
Nada 'speres que em ti já não exista,
Cada um consigo é triste.
Tens sol se há sol, ramos se ramos buscas,
Sorte se a sorte é dada.
Ricardo Reis

Wednesday, February 21, 2007

Elogio ao amor

"Quero fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão.
Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito.
Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.
Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo".
O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas.

Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje.
Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá tudo bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?
O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um jeitinho sentimental". Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode.
Tanto faz. É uma questão de azar. O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto.


O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A "vidinha" é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não dá para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende. O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe.

Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não está lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem.
Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir.
A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a vida inteira, o amor não.
Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também".
Miguel Esteves Cardoso in Express

A cobra e o pirilampo

Bom se querem que seja sincera, não sei quem escreveu este mini-conto...Deixo-o porque cada vez mais se adapta à nosso realidade, à nossa sociedade...
Era uma vez uma cobra que começou a perseguir um pirilampo que só vivia para brilhar. Ele fugia rápido com medo da feroz predadora e a cobra nem pensava em desistir. Fugiu um dia e ela não desistia, dois dias e nada.No terceiro dia, já sem forças, o pirilampo parou e disse à cobra:
- Posso fazer três perguntas?
- Podes. Não costumo abrir esse precedente para ninguém mas já que te vou comer, podes perguntar.
- Pertenço à tua cadeia alimentar?
- Não.
- Fiz-te alguma coisa?
- Não.
- Então porque é que me queres comer?
- PORQUE NÃO SUPORTO VER-TE BRILHAR!!!

E é assim, diariamente, tropeçamos em cobras!

Ensina-me

Vem...
Dá-me a tua mão,
Não me abandones.
Preciso de ti!
Quero sentir-nos
Num só coração.
Vem, amiga,
Dá-me a tua mão.
Vem...
Apressa o passo
E corre até mim.
Livra-me do abismo
Do Nada...
Vem...
Preciso de ti!
Não venhas no fim.
Toma a minha mão
E diz-me o que é a vida...
Mas...corre,
Vem depressa
Minha amiga!
Sinto-me escorregar
Para cair no abismo...
Levanta a tua voz
E faz-me ouvir
Qualquer coisa
Que me não deixe cair.
Vem...
Ensina-me a viver.
Fala do Tudo
Pois estou farto do Nada...
Estende a mão
Minha amiga,
Vem ensinar-me,
Vem ensinar-me a viver!....
Fernando da Silva Campos
Porto - 1969

A verdade

Fui ao cemitério visitar a morte
E saí de lá com a vida a meu lado!...
A paisagem trsite das campas desalinhadas
Mostrou-me nesse noite o que somos na Vida!...
E as flores mortas, esqueléticas, mirradas,
Com os troncos já podres,
Fizeram lembrar-me as coisas mais belas
Que em nós vão morrendo!...
Chamei pelos mortos mas ninguém me falou!...
Talvez se sintam bem na casa da morte!...
O silêncio mortal pairava no ar
E senti uma voz falando p´ra mim:
É assim, homem,
É assim que todos acabareis:
Os ricos, os pobres,
Os padres, os pecadores,
Os bispos, os papas,
As prostitutas, as virgens,
Todos vós, sim, os que pisais a terra
Acautelai-vos!...
Sabei viver a vida senão depois da morte
Sereis apenas isto:
Ossos mirrados, almas enegrecidas...
Ai desgraçados de vós! se nao souberdes viver
Tornar-vos-eis só pó no campo da morte!...
Fernando da Silva Campos
Porto - 1970

Tuesday, February 20, 2007

Isto

Dizem que finjo ou minto
Tudo que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.
Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa é que é linda.
Por isso escrevo em meio
Do que não está de pé,
Livre do meu enleio,
Sério do que não é.
Sentir? Sinta quem lê!
Fernando Pessoa

Portugal, Portugal


Tiveste gente de muita coragem
E acreditaste na tua mensagem
Foste ganhando terreno
E foste perdendo a memória
Já tinhas meio mundo na mão
Quiseste impor a tua religião
E acabaste por perder a liberdade
A caminho da glória
Ai, Portugal, Portugal
De que é que tu estás à espera?
Tens um pé numa galera
E outro no fundo do mar
Ai, Portugal, Portugal
Enquanto ficares à espera
Ninguém te pode ajudar
Tiveste muita carta para bater
Quem joga deve aprender a perder
Que a sorte nunca vem só
Quando bate à nossa porta
Esbanjaste muita vida nas apostas
E agora trazes o desgosto às costas
Não se pode estar direito
Quando se tem a espinha torta
Ai, Portugal, Portugal
De que é que tu estás à espera?
Tens um pé numa galera
E outro no fundo do mar
Ai, Portugal, Portugal
Enquanto ficares à espera
Ninguém te pode ajudar
Fizeste cegos de quem olhos tinha
Quiseste pôr toda a gente na linha
Trocaste a alma e o coração
Pela ponta das tuas lanças
Difamaste quem verdades dizia
Confundiste amor com pornografia
E depois perdeste o gosto
De brincar com as tuas crianças
Ai, Portugal, Portugal
De que é que tu estás à espera?
Tens um pé numa galera
E outro no fundo do mar
Ai, Portugal, Portugal
Enquanto ficares à espera
Ninguém te pode ajudar
Ai, Portugal, Portugal
De que é que tu estás à espera?
Tens um pé numa galera
E outro no fundo do mar
Ai, Portugal, Portugal
Enquanto ficares à espera
Ninguém te pode ajudar
Jorge Palma

Monday, February 19, 2007

Na terra dos sonhos

Andava eu sem ter onde cair vivo
Fui procurar abrigo nas faces estudadas do senhor Doutor
Ai de mim não era nada daquilo que eu queria
Ninguém se compreendia e eu vi que a coisa ia de mal a pior
Na terra dos sonhos, podes ser quem tu és,ninguém te leva a mal
Na terra dos sonhos toda a gente trata a gente toda por igual
Na terra dos sonhos não há pó nas entre linhas, ninguém se pode enganar
A abre bem os olhos,escuta bem o coração se é que queres ir para lá morar
Andava eu sozinho a tremer de frio
Fui procurar calor e ternura nos braços de uma mulher
Ai! Mas esqueci-me de dar-lhe também um pouco de atenção
E a minha solidão voltou, não me largou a mão um minuto sequer
Na terra dos sonhos, podes ser quem tu és,ninguém te leva a mal
Na terra dos sonhos toda a gente trata a gente toda por igual
Na terra dos sonhos não há pó nas entre linhas, ninguém se pode enganar
Abre bem os olhos,escuta bem o coração se é que queres ir para lá morar
Se queres ver o mundo inteiro á tua altura
Tens de olhar p´ra fora sem esqueceres que dentro é que é o teu lugar
E se ás duas por três vires que perdeste o balanço
Não penses em descanço, está ao teu alcançe tens de o encontrar
Na terra dos sonhos, podes ser quem tu és,ninguém te leva a mal
Na terra dos sonhos toda a gente trata a gente toda por igual
Na terra dos sonhos não há pó nas entre linhas, ninguém se pode enganar
A abre bem os olhos,escuta bem o coração se é que queres ir para lá morar
Jorge Palma

I miss you

To see you when I wake up is a gift
I didn't think could be real
To know that you feel the same as I do
Is a three fold, utopian dream
You do something to me that I can't explain
So would I be out of line if
I said,
I miss you
I see your picture,
I smell your skin on the empty pillow, next to mine
You have only been gone 10 days,
But already I'm wasting away
I know I'll see you again
Weither far or soon
But I need you to know
That I care
And I miss you
Incubus

A gente vai continuar

Tira a mão do queixo não penses mais nisso
O que lá vai já deu o que tinha a dar
Quem ganhou ganhou e usou-se disso
Quem perdeu há-de ter mais cartas p´ra dar
E enquanto alguns fazem figura outros sucumbem á batota
Chega a onde tu quiseres
Mas goza bem a tua rota
Enquanto houver estrada p´ra andar
A gente não vai parar
Enquanto houver estrada p´ra andar
Enquanto houver ventos e mar
A gente vai continuar enquanto houver ventos e mar
Todos náo pagamos por tudo o que usamos
O sistema é antigo e não poupa ninguém
Somos todos escravos do que precisamos
Reduz as necessidades se queres passar bem
Que a dependência é uma besta
Que dá cabo do desejo
A liberdade é uma maluca
Que sabe quanto vale um beijo
Jorge Palma

I want you

Oh my baby baby I love you more than I can tell
I don't think I can live without you
And I know that I never will
Oh my baby baby I want you so it scares me to death
I can't say anymore than "I love you"
Everything else is a waste of breath
I want you
You've had your fun you don't get well no more
I want you
Your fingernails go dragging down the wall
Be careful darling you might fall
I want you
I woke up and one of us was crying
I want you
You said "Young man I do believe you're dying"
I want you
If you need a second opinion as you seem to do these days
I want you
You can look in my eyes and you can count the ways
I want you
Did you mean to tell me but seem to forget
I want you
Since when were you so generous and inarticulate
I want you
It's the stupid details that my heart is breaking for
It's the way your shoulders shake and what they're shaking for
I want you
It's knowing that he knows you now after only guessing
It's the thought of him undressing you or you undressing
I want you
He tossed some tatty compliment your way
I want you
And you were fool enough to love it when he said
"I want you"
I want you
The truth can't hurt you it's just like the dark
It scares you witless
But in time you see things clear and stark
I want you
Go on and hurt me then we'll let it drop
I want you
I'm afraid I won't know where to stop
I want youI'm not ashamed to say I cried for you
I want you
I want to know the things you did that we do too
I want you
I want to hear he pleases you more than I do
I want you
I might as well be useless for all it means to you
I want you
Did you call his name out as he held you down
I want you
Oh no my darling not with that clown
I want you
I want you
You've had your fun you don't get well no more
I want you
No-one who wants you could want you more
I want you
I want you
I want you
Every night when I go off to bed and when I wake up
I want you
I'm going to say it once again 'til I instill it
I know I'm going to feel this way until you kill it
I want you
I want you
I want you
Elvis Costello

Sunday, February 18, 2007

Paixão


Tu eras aquela, que eu mais queria.
Para me dar dar algum conforto e companhia.
Era só contigo que eu, sonhava andar.
Para todo o lado e até pensava, talvez casar.
Ai o que eu passei, só por te amar.
A saliva que eu gastei, para te mudar.
Mas esse teu mundo era mais forte do que eu.
E nem com a força da música ele se moveu.
Mesmo sabendo que não gostavas,
Empenhei o meu anel de rubi.
Para te levar ao concerto,
Que havia no Rivoli.
E era só a ti, quem eu mais queria,
Ao meu lado no concerto nesse dia.
Juntos no escuro de mão dada a ouvir.
Aquela música maluca, sempre a subir.
Mas tu não ficaste, nem meia hora.
Não fizeste um esforço para gostar e foste embora.
Contigo aprendi uma grande lição.
Não se ama alguém que não houve a mesma canção.
Mesmo sabendo que não gostavas,
Empenhei o meu anel de rubi.
Para te levar ao concerto,
Que havia no Rivoli.
Foi nesse dia, que percebi,
Nada mais por nós havia a fazer.
A minha paixão por ti, era um lume,
Que não tinha mais lenha por onde arder.
Mesmo sabendo que não gostavas,
Empenhei o meu anel de rubi.
Para te levar ao concerto,
Que havia no Rivoli.
Rui Veloso

Escravo da razão

"Quem domina suas paixões é escravo da razão."
Cyril Connolly

Teus olhos entristecem...

Teus olhos entristecem.
Nem ouves o que digo.
Dormem, sonham, esquecem...
Não me ouves, e prossigo.
Digo o que já, de triste,
Te disse tanta vez...
Creio que nunca me ouviste
De tão tua que és.
Olhas-me de repente
De um distante impreciso
Com um olhar ausente.
Começas um sorriso.
Continuo a falar.
Continuas ouvindo
O que estás a pensar,
Já quase não sorrindo.
Até que nasce ocioso
Sumir de tarde fútil,
Se esfolha silencioso
O teu sorriso inútil.
Fernando Pessoa

Desprezo

Amigo,
Palavra esquecida hoje em dia,
Palavra riscada do dicionário
Da vida do mundo de hoje!
Que foi feita de ti, palavra?
Que significas tu?
Não, não compreendo o porquê
Do teu desaparecimento da sociedade.
Ainda há uns anos atrás,
Tempos de meus avós,
Eras amada e respeitada, palavra!
E hoje? se não correram as moedas
Pelos dedos hábeis dos supostos
Senhores de tudo isto, nada és...
Eras amada e respeitada, palavra!...
Invocam-te no crime e no pecado
E já é uso ouvir dizer-se:
- Apareceu morto, coitado,
Foi o amigo...
Foi ontem roubado, pelo amigo...
Que desprezada estás, palavra!
Enriqueceste apenas nisto:
Tens hoje em dia
Mil e um significados!...
Fernando da Silva Campos
Porto - 1969

Num dia de tédio

Junto ao mar eu fui saber,
Ouvindo águas gemendo,
O que significa viver
Que é coisa que eu não entendo.
A areia quente amarela,
Quando o mar então gemia,
Foi cantando a vida dela,
Tudo por quanto sofria.
Ouvi-a com atenção
E dei-lhe razão no fim.
Abri o meu coração
E então falei-lhe assim:
Não sei o que é esta vida
E é tão difícil saber
Se uma vida já perdida
Voltará a renascer!...
A vida a mim me parece
Uma jornada sem fim,
Uma coisa que carece
D'algo p'ra vir até mim.
Olho a vida como um horto
Cheio de desolução,
Um corpo de homem morto
Entrando em corrupçao.
Como castelos na areia
Alegria das crianças
Mas que vindo a maré cheia
O mar derruba sem lanças.
Castelos ocos da vida
Sem soldados guardiões.
A vida p'ra mim, a vida
É um castelo de ilusões.
Já o mar se revoltara
Em ondas de uma porcela
E à'reia se calara
Aguentando a vida dela.
O tédio me possuía
Ao pensar eu como viver
Mas vi que à'reia vivia
Sem deixar de mui sofrer.
Pus-me então a meditar
E vim depois a saber
Que p'rá vida se passar
Importa saber viver.
Fernando da Silva Campos
Porto - 1970

Saturday, February 17, 2007

O meu amor

O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
E que me deixa louca
Quando me beija a boca
A minha pele toda fica arrepiada
E me beija com calma e fundo
Até minh'alma se sentir beijada
O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
Que rouba os meus sentidos
Viola os meus ouvidos
Com tantos segredos
Lindos e indecentes
Depois brinca comigo
Ri do meu umbigo
E me crava os dentes
Eu sou sua menina, viu?
E ele é meu rapaz
Meu corpo é testemunha
Do bem que ele me faz
Meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
De me deixar maluca
Quando me roça a nuca
E quase me machuca
Com a barba mal feita
E de posar as coxas
Entre as minhas coxas
Quando ele se deita
O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
De me fazer rodeios
De me beijar os seios
Me beijar o ventre
Me deixar em brasa
Desfruta do meu corpo
Como se meu corpo
Fosse a sua casa
Eu sou sua menina, viu?
E ele é meu rapaz
Meu corpo é testemunha
Do bem que ele me faz

Maria Bethânia
Composição: Chico Buarque
(Se isto não é o Amor, então não sei o que seja...)

Fly me to the moon


Fly me to the moon
Let me play amoung the stars
Let me see what spring is like
On jupiter and mars
In other words, hold my hand
In other words, baby kiss me
Fill my heart with song and
Let me sing for ever more
You are all I long for
All I worship and adore
In other words, please be true
In other words,
I love you
Fill my heart with song and
Let me sing for ever more
You are all I long for
All I worship and adore
In other words, please be true
In other words
In other wordsss, I love you
Frank Sinatra
Composição: Bart Howard

Se, depois de eu morrer...

Se, depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia,
Não há nada mais simples.
Tem só duas datas --- a da minha nascença e a da minha morte.
Entre uma e outra todos os dias são meus.
Sou fácil de definir.
Vi como um danado.
Amei as coisas sem setimentalidade nenhuma.
Nunca tive um desejo que não pudesse realizar, porque nunca ceguei.
Mesmo ouvir nunca foi para mim senão um acompanhamento de ver.
Compreendi que as coisas são reais e todas diferentes umas das outras;
Compreendi isto com os olhos, nunca com o pensamento.
Compreender isto com o pensamento seria achá-las todas iguais.
Um dia deu-me o sono como a qualquer criança.
Fechei os olhos e dormi.
Além disso fui o único poeta da Natureza.

Alberto Caeiro

A frouxidão no amor é uma ofensa

Encontrei este poema recentemente quando desfolhava o meu manual de Português de 11º ano...Não sei bem porquê chamou-me a atenção, talvez por apreciar a escrita de Bocage, talvez por acha-lo de facto bonito, sincero e por de certa forma concordar com ele!É por isso que vai ser o primeiro que vos deixo para apreciarem...

A frouxidão no amor é uma ofensa,
Ofensa que se eleva a grau supremo;
Paixão requer paixão, fervor e extremo;
Com extremo e fervor se recompensa.
Vê qual sou eu, vê qual és tu, vê que diferença!
Eu descoro, eu praguejo, eu ardo, eu gemo;
Eu choro, eu desespero, eu clamo, eu tremo;
Em sombras a razão se me condensa.
Tu só tens gratidão, só tens brandura,
E antes que um coração puco amoroso
Quisera ver-te uma alma ingrata e dura.
Talvez me enfadaria aspecto iroso,
Mas de teu peito a lânguida ternura
Tem-me cativo e não me faz ditoso.

Bocage

Apreciando a Beleza....Porquê?

Normalmente as pessoas usam os blogs para mostrar/dar a sua opinião sobre o mundo, sobre política, etc...Contudo, eu adoro poesia, musica e aquelas(es) frases/pensamentos que mexem comigo, que de alguma maneira me fazem pensar no que me rodeia...
Daí que tenha criado este blog com o intuito de partilhar um bocadinho deste meu lado...Chamei-lhe "Apreciando a Beleza" porque gostava de partilhar com vocês a beleza...A beleza das palavras, das frases, dos poemas...E porque espero sinceramente que a apreciem!
Aviso desde já que raramente vão ler posts com uma opinião ou com algum tipo de divagação minha...Porque este blog vai servir essencialmente para apreciar a beleza daquilo que já foi escrito em tempos, que pessoas sentiram ou pensaram e que quiseram partilhar connosco...
Por fim, quero deixar bem claro que nenhum dos poemas, letras de musica ou frases que aqui forem deixados, estarão de alguma maneira relacionados com a minha vida...Deixo-os apenas pela sua beleza...