Junto ao mar eu fui saber,
Ouvindo águas gemendo,
O que significa viver
Que é coisa que eu não entendo.
A areia quente amarela,
Quando o mar então gemia,
Foi cantando a vida dela,
Tudo por quanto sofria.
Ouvi-a com atenção
E dei-lhe razão no fim.
Abri o meu coração
E então falei-lhe assim:
Não sei o que é esta vida
E é tão difícil saber
Se uma vida já perdida
Voltará a renascer!...
A vida a mim me parece
Uma jornada sem fim,
Uma coisa que carece
D'algo p'ra vir até mim.
Olho a vida como um horto
Cheio de desolução,
Um corpo de homem morto
Entrando em corrupçao.
Como castelos na areia
Alegria das crianças
Mas que vindo a maré cheia
O mar derruba sem lanças.
Castelos ocos da vida
Sem soldados guardiões.
A vida p'ra mim, a vida
É um castelo de ilusões.
Já o mar se revoltara
Em ondas de uma porcela
E à'reia se calara
Aguentando a vida dela.
O tédio me possuía
Ao pensar eu como viver
Mas vi que à'reia vivia
Sem deixar de mui sofrer.
Pus-me então a meditar
E vim depois a saber
Que p'rá vida se passar
Importa saber viver.
Fernando da Silva Campos
Porto - 1970
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